Modernismo (3ª Fase)

1- Enem - 2013
 
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
[...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes.
 

LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro:  Rocco, 1998 (fragmento).

A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador

A) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.
B) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem.
C) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.
D) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.
E) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção
2- (Enem - 2011)
“Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: — Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-d‘angola, como todo o mundo faz? — Quero criar nada não... — me deu resposta: — Eu gosto muito de mudar... [...] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. [...] Essa não faltou também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. [...] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.”
 
ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento).
 
Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador
A) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.
B) descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de agregado — em proprietário de terra.
C) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra.
D) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.
E) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.
3- UFPR – 2008
“(...) As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias. (...)
 
                                                                            ” (de “Os desastres de Sofia”)
 
(...) Na verdade era uma vida de sonho. Às vezes, quando falavam de alguém excêntrico, diziam com a benevolência que uma classe tem por outra: “Ah, esse leva uma vida de poeta”. Pode-se talvez dizer, aproveitando as poucas palavras que se conheceram do casal, pode-se dizer que ambos levavam, menos a extravagância, uma vida de mau poeta: vida de sonho. Não, não era verdade. Não era uma vida de sonho, pois este jamais os orientara. Mas de irrealidade. (...)
 
                                                                                    ” (de “Os obedientes”)
 
Com base nos fragmentos acima transcritos, extraídos de contos do livro Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, considere as seguintes afirmativas:
 

I. Narrar ou deixar de narrar, avaliar de diferentes maneiras um mesmo fato narrado são hesitações frequentes dos narradores de Clarice Lispector. Como nos fragmentos acima, também em outros contos prioriza-se a abordagem da vida interior, própria ou alheia, revelando sutis alternâncias de percepção da realidade.

II. O aspecto metalinguístico está presente no primeiro fragmento.

III. Na ficção de Clarice Lispector, as diferenças entre a percepção masculina e a feminina não são tematizadas, pois o ser humano está sempre condenado a viver num mundo incompreensível.

IV. Na ficção de Clarice Lispector, apenas as personagens adultas têm consciência de seus processos interiores. As crianças e adolescentes sofrem o impacto de novas descobertas, mas sua inocência os afasta de qualquer comportamento perverso e os protege dos riscos de viver mais intensamente.

Assinale a alternativa correta.

A) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
B) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
C) Somente as afirmativas 3, 4 são verdadeiras.
D) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.
E) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
4- (PUCCAMP) Leia o seguinte trecho de Guimarães Rosa:
 
"E desse modo ele se doeu no enxergão, muitos meses, porque os ossos tomavam tempo para se ajuntar, e a fratura exposta criara bicheira. Mas os pretos cuidavam muito dele, não arrefecendo na dedicação.
 
– Se eu pudesse ao menos ter absolvição dos meus pecados!...
 
Então eles trouxeram, uma noite, muito à escondida, o padre que o confessou e conversou com ele, muito tempo, dando-lhe conselhos que o faziam chorar.
 
– Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruindade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?
 
– Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não tira o estribo do pé de arrependimento nenhum...
 
E por aí a fora foi, com um sermão comprido, que acabou depondo o doente num desvencido torpor."
 
O trecho acima representa a seguinte possibilidade entre os caminhos da literatura contemporânea.
A) ficção regionalista, em que se reelabora o gênero e se revaloriza um universo cultural localizado
B) narrativa de cunho jornalístico, em que a linguagem comunicativa retoma e reinterpreta fatos da história recente.
C) ficção de natureza politizante, em que se dramatizam as condições de classes entre os protagonistas.
D) prosa intimista, psicologizante, em que o narrador expõe e analisa os movimentos da consciência reflexiva.
E) prosa de experimentação formal, em que a pesquisa linguística torna secundária a trama narrativa.
5- (UEL-PR) Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, identifica-se como:
A) uma obra que, refletindo inovações e experimentações linguísticas do autor, torna tênues as barreiras entre a prosa e poesia.
B) um auto que explora a temática do nascimento como signo do ressurgir da esperança.
C) um auto de Natal que rememora a visita dos reis Magos e pastores ao Deus Menino.
D) um poema que encerra uma síntese das propostas vanguardistas contidas na obra geral do autor.
E) um conto cujo interesse se centraliza na preocupação do autor como problema da seca no Nordeste.
6- (Puccamp-SP)
 
Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso.
 
Pelo fragmento acima de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, percebe-se que neste romance, como em outros regionalistas do autor,
A) O conflito entre o eu e o mundo se realiza pela interação entre as personagens e o sertão que acaba por ser mítico e metafísico.
B) O sertão é um lugar perigoso, onde os habitantes sofrem as agressões do meio hostil e adverso à sobrevivência humana.
C) Não existe uma região a que geograficamente se possa chamar de sertão: ele é fruto da projeção do inconsciente das personagens.
D) A periculosidade da vida das personagens está circunscrita ao meio físico e social em que vivem.
E) Há um conceito muito restrito de sertão, reduzido a palco de lutas entre bandos de jagunços.
7- (Unimes - SP) Assinale a alternativa incorreta sobre A hora da estrela, de Clarice Lispector:
 
A) A obra conta, na verdade, várias histórias: a da nordestina Macabéa, a de Rodrigo S.M., que se vê refletido na personagem, e a história de como escrever um livro sobre uma personagem tão pobre e insignificante.
Rodrigo S.M. é não só o narrador da história de Macabéa, mas também protagonista de outra história que se cruza com a dela: a história do processo de construção do texto que está escrevendo.
C) A obra narra a história de Macabéa, migrante nordestina que vem para São Paulo, como todos os nordestinos, em busca de uma vida melhor, o que acaba conseguindo a duras penas: torna-se datilógrafa em um escritório respeitável.
D) De acordo com o narrador, Macabéa é um ser "incompetente para a vida": não é bonita nem inteligente, não tem cultura nem poder de sedução.
8- (Mackenzie SP/2018)
 
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa,entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
                                                            “Felicidade Clandestina”, Clarice Lispector
 
Considere as afirmações abaixo, que estabelecem uma comparação entre o poema de Paulo Leminski e o trecho do conto de Clarice Lispector:
 
I. Tanto o poema quanto o fragmento selecionado do conto são reflexões sobre o processo de amadurecimento de um indivíduo;
 
II. Enquanto o poema de Leminski aborda o tema do amadurecimento com o uso do humor, o conto de Lispector escolhe um registro mais intimista para o mesmo tema;
 
III. A última frase do trecho de “Felicidade clandestina” mostra que a personagem que ficou com a posse do livro não deu nenhum passo em direção à vida adulta.
 
Assinale a alternativa correta.
 
A) Estão corretas as afirmativas I e II.
B) Estão corretas as afirmativas I e III.
C) Estão corretas as afirmativas II e III.
D) Todas as afirmativas estão corretas.
E) Nenhuma das afirmativas está correta.
9- (PUCCamp SP/2016)
Por vezes, a literatura pode se pautar por diferentes tempos: há o tempo da história narrada, de sua sequência cronológica, e há o tempo da linguagem que processa essa história. A linguagem experimental do irlandês James Joyce reinterpreta, em pleno século XX, a história mítica de Ulisses. No Brasil, há uma ocorrência similar, se pensamos em Grande sertão: veredas, romance onde Guimarães Rosa articula magistralmente dois planos temporais:
A) a corrosão nostálgica da memória e a busca de uma nova mitologia.
B) o universo arcaico do sertão e a expressão linguística ousada e inventiva.
C) o ritmo cantante da lírica e a urgente denúncia política.
D) o desapego às crenças do passado e a obsessão pelo experimentalismo estético.
E) a história do passado colonial e o registro das velhas crônicas med
10- (ENEM/2017)
 
Dois parlamentos
 
Nestes cemitérios gerais
não há morte pessoal.
Nenhum morto se viu
com modelo seu, especial.
Vão todos com a morte padrão,
em série fabricada.
Morte que não se escolhe
e aqui é fornecida de graça.
Que acaba sempre por se impor
sobre a que já medrasse.
Vence a que, mais pessoal,
alguém já trouxesse na carne.
Mas afinal tem suas vantagens
esta morte em série.
Faz defuntos funcionais,
próprios a uma terra sem vermes.
 
MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).
 
A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João Cabral de Melo Neto. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a)
A) tom de ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra.
B) inutilidade de divisão social e hierárquica após a morte.
C) aspecto desumano dos cemitérios da população carente.
D) nivelamento do anonimato imposto pela miséria na morte.
E) indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos.
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